O Porto e 100 anos de Fernando Távora

O livro “A Urgência da Cidade: o Porto e 100 anos de Fernando Távora” surge 
no seguimento da exposição homónima, aquando da comemoração do centenário 
do nascimento do arquiteto. Figura incontornável na história da arquitectura portuguesa, Távora foi um elemento agregador de diversas disciplinas, da Arquitectura 
à Literatura, da História ao Coleccionismo. Este livro procurou refletir essa dimensão multidisciplinar, tendo como epicentro a sua “obra manifesto” — a Antiga Casa 
da Câmara, no Morro da Sé, onde teve lugar a exposição.

Outrora “Casa dos 24”, o “Edifício-Torre” erguido no séc.XV foi sede do poder municipal até ao séc. XVII e, em 1875, sofreu um incêndio que o destruiu. Em 2002, Fernando Távora projecta a nova Torre, numa nova interpretação do edifício: três paredes graníticas elevadas em “U” e uma face transparente em vidro “como uma moldura, à leitura da Cidade”(1).

O livro procura evocar a “caixa milagrosa”(2) de Fernando Távora, convocando várias disciplinas — Arquitectura, Arqueologia, História, Educação, Urbanismo, entre outras — para um mesmo plano. É composto por seis captítulos que organizam os conteúdos textuais segundo um percurso Torre – Arquitecto – Cidade – Homem e do qual fazem parte três narrativas fotográficas que pontuam o início, meio e fim da publicação: um prólogo da Antiga Casa da Câmara (1995–2003) por Luis Ferreira Alves; um atlas da obra de Távora; a documentação da exposição homónima, inaugurada um ano antes na Antiga Casa da Câmara.

No seguimento do projecto de design gráfico e expositivo desenvolvido, as mesmas premissas moldaram o projecto gráfico da publicação. O desenho estrutural do livro procurou assim acentuar ideias de verticalidade e continuidade. O desenho tipográfico 
em cada página propõe vincar continuamente a verticalidade da mesma, numa alusão constante dos elementos gráficos e tipográficos à volumetria e geometria da Torre. 
O uso de linhas rectas verticais, que acompanham cada página ao longo do livro, existem enquanto linhas temporais que atravessam os vários temas e disciplinas. A escolha de um formato de proporção mais larga, 3:4, permitiu destacar essa dimensão, acentuando o contraste com a verticalidade dos blocos de texto e permitindo um paralelismo com as notas textuais que acompanham o corpo principal. Ao longo do livro, o desenho tipográfico procura ainda contrapor a rigidez do corpo principal com a liberdade dos elementos gráficos e imagens. As imagens irrompem o fluxo natural dos textos, em múltiplas escalas e posicionamentos distintos que procuram acrescentar uma dimensão mais irregular e disruptiva.

O livro procura ainda evocar, na sua materialidade, a solidez e a robustez da pedra granítica, elemento crucial na obra da Antiga Casa da Câmara. Procura manter presente a ideia da Torre como “pedra fundadora”. O livro é abraçado por uma capa dura de 3mm, revestida num papel “areado”e aparado em três arestas expondo, com o corte, 
a materialidade do cartão. Num gesto subversivo e transversal, o título atravessa a capa, o lombo dianteiro e a contracapa com uma composição em capitulares e uma escala tipográfica que evidencia a geometria das formas, numa mancha gráfica densa — uma malha urbana. Este “livro de 3 alçados” é, assim, voltado para a sua abertura, que 
o marca e deixa vestígios em todas as suas páginas. Sobre a capa foi gravado, num baixo relevo seco, um auto-retrato de Fernando Távora, o único conhecido até a data, trazendo para um primeiro plano uma perspectiva do arquitecto sobre si mesmo e evocando o olhar múltiplo que Távora cultivara.

  1. “Uma estrutura de paredes em “U”, repousando sobre parte da ruína existente, limita o edifício 
por três lados, enquanto o quarto se abre, como uma moldura, à leitura da Cidade.” 
Fernando Távora, 1998. “Memória Descritiva e Justificativa” in “A Urgência da Cidade: 
o Porto e 100 anos de Fernando Távora,” p. 89.

  2. “Uma espécie de caixa milagrosa que nos permitirá percorrer um espaço carregado de tempo.” Fernando Távora, 1998. “Memória Descritiva e Justificativa” in “A Urgência da Cidade: 
o Porto e 100 anos de Fernando Távora,” p. 89.